Carta a todos os alunos da UFES

Que me desculpem os companheiros desse antigo blog, mas esse texto precisa ser postado aqui (ou eu vou ter muito trabalho pra criar outro blog):


Os alunos manifestantes dizem estar representando a maioria, mas quando se diz que a maioria dos alunos é contra os protestos, o contra-argumento é que a votação foi feita pela assembleia, no qual todos podem participar, e a assembleia decidiu tomar a atitude. Qualquer discordância, portanto, deve ser resolvida primeiro lá.

Ora, não é função da assembleia representar os alunos? Imagino que mais de mil alunos indo votar a cada medida causaria um certo tumulto, e justamente por isso o poder da assembleia de estudantes é REPRESENTATIVO.

Não é DEVER do aluno participar das assembleias, e não é obrigatória a participação deles em todos movimentos político-estudantis. Eu diria que aquilo que foi decidido defende, na verdade, o interesse de poucos estudantes, que estão interessados em política ou podem se dar ao luxo de gastar a maior parte do seu tempo da universidade em movimentos deste tipo. Quando é óbvio que a maioria dos estudantes da UFES são contra os protestos e as greves, mas elas acontecem mesmo assim, o que ocorre é a imposição da visão de poucos sobre aquilo que, APARENTEMENTE, é "melhor para todos".

Neste caso, muitos estudantes das áreas de exatas disseram que a movimentação dos protestos e da greve, por exemplo, está atrapalhando o andamento do curso deles, que não tem ligação alguma com política. Foi então argumentado que, por pensarem assim, eles são egoístas, pois se importam apenas "com o próprio umbigo", já que o protesto beneficiaria docentes Brasil afora.

Pois bem, não é egoísta então atrapalhar o andamento da vida acadêmica de quem não tem relação com isso? Não seria mais sensato buscar suporte dos interessados, de maneira pacífica, ao invés de coagir à força? Não é novamente egoísta querer forçar estudantes sem relação alguma com isso a te apoiarem em uma causa que vai beneficar VOCÊ no futuro, enquanto que atualmente atrapalha a carreira deles?

Por isso digo que esses protestos e greves estudantis já se tornaram puramente uma "baderna". O órgão que deveria representar a maioria dos estudantes está representando, na verdade, a vontade de poucos, que justificam suas ações através de argumentos falaciosos, moldando ao seu bel prazer a função das leis que regem este mesmo órgão.
Além disso, a atitude democrática que permite ser contra as determinadas ações está sendo combatida e reprimida, pois todos que são contra a greve estudantil são chamados, no fim, de "burgueses", "egoístas", "desinformados", "ignorantes" e "acomodados que só se movem para algo quando incomodados".

Ninguém é obrigado a se interessar ou pensar da mesma forma que os protestantes. Ninguém é obrigado a participar de movimentos estudantis na universidade, já que cada um ingressa nela seguindo planos próprios. Esta é a verdadeira democracia, a liberdade de cada um seguir seu próprio caminho, onde um representante busca sempre o meio-termo que agrade a todos (ou pelo menos a maioria).

O que vemos, por fim, é a implantação de uma sombra de um regime ditatorial estudantil, onde quem não participa é ignorante e deve ter alguém "melhor preparado" para tomar as decisões que JULGAM melhores, mas que nem sempre são, e que obriga os discordantes a aceitarem sua imposição, por bem ou por mal.

Os ideais e os discursos que movem estes protestantes podem ser democráticos em sua essência, mas as atitudes tomadas demonstram o contrário. O bloqueio dos portões para automóveis, por exemplo, mostra como foi tomada uma atitude deliberada, que vai CONTRA a lei, e prejudicou não só os "estudantes burgueses que têm carro", mas pessoas que dependem de transporte público e pessoas que dirigem automóveis variados e carregam objetos pessoais de valor dentro do veículo, que não tem como transportá-los em ônibus e similares. Esta mesma ação impediu um cadeirante de frequentar as dependências da universidade, e quase obrigou um ônibus com crianças a dar meia volta. Além disso, está causando um sério problema de congestionamento nas vias próximas, por falta de lugar para estacionar.

Foi uma atitude impensada, que mostra o DESPREPARO dos protestantes em lidar com questões sócio-políticas.

Sugere-se então que os participantes responsáveis do DCE e da Assembleia dos Estudantes sejam EXONERADOS de suas funções, ou caso queiram continuar exercendo-as, saibam tomar atitudes condizentes com a realidade que a MAIORIA dos estudantes enfrenta, e não de pequenos grupos com ideologias que eles julgam dignos. E que não se escondam atrás de FALÁCIAS como "qualquer um pode ir votar na Assembleia, não foram porque não quiseram", quando a desaprovação geral é óbvia, e que levem a tomar atitudes que prejudicam outros estudantes.

Cada pessoa sabe o que é melhor para si, e a partir do momento que outros começam a ser prejudicados, qualquer justificativa para isso se torna desmedida e desnecessária. Basta ter um pouco de bom senso para entender que não se pode FORÇAR as pessoas a aceitarem ideologias que não acreditam, e nem obrigá-las a frequentar locais ou movimentos pelos quais não se interessam.

Espero que isso acabe com os ataques verbais dos alunos grevistas contra os não-grevistas, que certas atitudes sejam melhor PENSADAS antes de serem tomadas, e que as diferenças entre crenças e ideologias sejam respeitadas.